Memórias do Panorama – Por Calebe Lopes

25/03/2025

“Em 2015, com 19 anos, fui ao Panorama pela primeira vez. Morador do bairro do Uruguai, na Cidade Baixa, eu vinha fazendo curtas-metragens amadores com amigas e amigos desde a escola, motivado por uma paixão por cinema que naquela época ainda era muito inicial e um tanto precária, conforme o que eu conseguia acessar.

Eu não estava no Panorama como realizador (minhas tentativas de cometer cinema naquela época ainda não eram dignas de ganhar a tela do Cine Glauber Rocha), havia me inscrito para a Oficina de Crítica – que era outro dos ofícios que eu tentava exercer na época. A participação na Oficina, naquele ano sob tutela do crítico Rafael Carvalho, teve dois efeitos principais que mudaram o rumo da minha vida (sério, é nesse nível).

O primeiro deles, é que por conta da Oficina, pude participar do blog Pílulas Críticas e ter acesso às sessões do festival gratuitamente (coisa que, de outro modo, eu não conseguiria acessar). Vi muito filme naquela edição. As sessões do Panorama – e especialmente seus debates – foram um mundo novo abrindo-se para mim. Poder ter aquela amostra dos cinemas possíveis de se fazer no Brasil e na Salvador daquele tempo foi o que enfim fomentou o meu sonho de um dia poder fazer parte daquilo tudo.

Cinema não era um horizonte palpável pra mim, as responsabilidades de trabalhar para ajudar em casa ou de ser a primeira pessoa da família a cursar uma universidade vinham antes do que, até aquele momento, eu estava muito conformado em tratar como hobby. Porém, a partir de 2015, ter um curta exibido no Panorama passou a ser uma meta pessoal.

O segundo efeito foi ainda mais especial: na oficina de crítica pude conhecer Hilda Lopes Pontes, e através delu posteriormente também virar amigo de Klaus Hastenreiter – hoje, 10 anos depois, meus melhores amigos e também colegas no árduo trabalho diário em nossa produtora, a Olho de Vidro. Produtora de cinema. Cinema esse com que pago as contas. E que desde 2017 vem exibindo todos os nossos filmes no Panorama. O Calebe de 29 anos olha pro de 19 e ri. “Calma, será melhor do que você consegue imaginar”.

Por causa do Panorama, hoje me sinto parte dessa geringonça conhecida como Cinema Brasileiro. E para sempre serei grato por isso. Não apenas pela formação (artística, política, humana e cinéfila), mas pela companhia que me tem feito em todos esses anos. Acho que se pegar fotos minhas no Panorama ao longo dos anos, dá pra montar uma linha do tempo, uma espécie de “Boyhood” versão CBX. Envelhecemos eu e o festival, e sou grato por isso também.

Meu objetivo enquanto cineasta agora é fazer filmes que inspirem outras possibilidades de fazer cinema na Bahia para novas gerações de realizadores e realizadoras que estão chegando. Dá pra fazer terror, ficção científica, giallo, e o que mais a criatividade mandar. Você pode fazer o filme que quiser, juro. Se não acredita em mim, vá ao Panorama desse ano e depois a gente conversa.”