Panorama de Cinema terá dois filmes LGBTQIA+ na abertura, nesta quinta (3)

04/11/2022

Paloma, de Marcelo Gomes, e A Rainha Diaba, com Milton Gonçalves, são atrações do primeiro dia do festival

É hora de maratonar! Mas não no sofá, em casa, devorando séries no streaming. A hora é de sair de casa, ir ao Centro da cidade e passar a tarde no cinema, assisitindo a filmes de países como Lituânia, Arábia Saudita e Guiana Francesa. É que começa nesta quinta-feira (3) a 18ª edição do Panorama Internacional Coisa de Cinema, que segue até o dia 9 no Cine Metha Glauber Rocha.

Depois de dois anos de pandemia, o Panorama volta a ser realizado 100% presencialmente, em Salvador e também em Cachoeira. “Acreditamos que a experiência cinematográfica se dá plenamente na sala de cinema. O Panorama possui essa ligação muito forte com as salas de rua e com os centros históricos”, comemora Cláudio Marques, um dos coordenadores do Panorama.

A abertura nesta quinta, às 20h, será marcada pela exibição de dois filmes de temática LGBTQIA+: o contemporâneo Paloma, de Marcelo Gomes, e A Rainha Diaba, de 1974, dirigido por Antonio Carlos da Fontoura. O Panorama terá também uma intensa agenda musical, que será aberta no mesmo dia, às 18h30 com uma apresentação de Ronei Jorge, no Terraço do Cine Metha, com entrada gratuita.

Cláudio Marques diz que a apresentação de dois filmes LGBTQIA+ na abertura foi “uma coincidência interessante: “Foram outros motivos que nos levaram a decidir pelos filmes. Interessante como dois grandes filmes (um do passado, outro contemporâneo) tenham essa temática”.

Paloma
O diretor pernambucano Marcelo Gomes, de Cinema, Aspirinas e Urubus, inspirou-se numa história real para criar o mote de Paloma, quando leu há cerca de dez anos uma reportagem sobre uma mulher trans que vivia no agreste de Pernambuco e queria se casar na igreja. “Ela queria se casar de véu e grinalda e isso provocou a ira de uma cidade. A história falava de amor, preconceito, fé, conservadorismo, ódio… mas falava principalmente de afeto. E eu queria falar de afeto”.

No filme, a protagonista é uma mulher trans que trabalha na zona rural, numa plantação de mamão e está economizando para pagar a festa de casamento. Mas o padre se recusa a celebrar a cerimônia. Mas Paloma decide enfrentar a sociedade rural conservadora. “É um filme romântico sobre um jornada de autoafirmação. Paloma é útil ao produzir riqueza num sistema capitalista, mas, quando constrói sua subjetividade, seu sonho… ela se torna inapta para sonhar”, diz Marcelo. O diretor vai participar de um debate após a sessão, onde estará também a atriz Kika Sena.

O outro filme da abertura, A Rainha Diaba, é uma homenagem ao ator Milton Gonçalves, que interpreta o papel principal e morreu neste ano, aos 88 anos. Com roteiro de Plínio Marcos (1935-1999), o longa foi livremente inspirado no criminoso carioca João Francisco dos Santos, conhecido como Madame Satã – que dá nome a um outro filme de 2002, estrelado por Lázaro Ramos. Milton vive um homossexual que controla o tráfico de drogas numa região e, para proteger um de seus homens que pode ser preso, cria uma trama para incriminar outra pessoa.

O Panorama dá destaque a um outro filme de temática LGBTQIA+, que participa da Competitiva Nacional de Longas: Três Tigres Tristes, de Gustavo Vinagre. O drama venceu o Teddy Award no Festival de Berlim, que premia o melhor filme LGBTQIA+. Conta a história de três jovens – um deles é drag queen e outro é uma mulher transexual – que, durante uma pandemia de perda da memória, rodam por São Paulo e conhecem personagens da cidade.

“É uma história atrelada à loucura e ao caos da vida urbana, desses personagens que atravessam a cidade e suas desigualdades. Tem muito a cara de São Paulo e tem isso de sair pela rua e não saber o que vai encontrar. A geografia da cidade acaba sendo essencial para o filme”, diz Gustavo Vinagre. Será exibido dia 6, no Cine Theatro Cachoeirano, às 19h, e no dia 8 em Salvador, às 19h40.

Môa, Raiz Afromãe, de Gustavo McNair
Com participação de artistas como Gilberto Gil, Lazzo Matumbi e Vovô do Ilê, o doc resgata a importância de Mestre Môa no processo de reafricanização do carnaval baiano. O capoeirista foi assassinado em 2018, após uma discussão por divergência política. Exibição dia 6 (domingo), às 14h45.
Mostra O Cinema Segundo Pasolini
Para festejar o centenário de nascimento do italiano Pier Paolo Pasolini, o Panorama exibe seis filmes do diretor: Accattone – Desajuste Social; Comícios de Amor; Gaviões e Passarinhos; Mamma Roma; O Evangelho Segundo São Matheus (foto) e Rei Édipo. Horários no site do festival.
Nós, Estudantes
O documentário acompanha a rotina de três estudantes de graduação em economia na Universidade de Bangui, na República Centro-Africana. Mostra as dificuldades que aqueles jovens vivem, como lotação das salas de aula, corrupção à solta e a necessidade de atuar em subempregos para sobreviver. Em Salvador: dia 7, 19h15; dia 8, 15h20.

SERVIÇO
O que: XVIII Panorama Internacional Coisa de Cinema
Quando: 3 a 9 de novembro
Onde: Salvador: Cine Metha – Glauber Rocha (em frente à Praça Castro Alves)
Cachoeira: Cine Theatro Cachoeirano
Preço: Em Salvador, R$12 (inteira)/ R$6 (meia) e passaporte individual para 10 sessões por R$40. Em Cachoeira, o acesso é gratuito.
Programação: panorama.coisadecinema.com.br